Aproveitando que esse tema virou modinha, eu queria trazer uma reflexão aos noivos que é fruto de muitos anos estudando e trabalhando com o tema "família". Casamento deve ser prioridade até a página 2: quando você tem um cônjuge que te respeita, é compressivo com sua responsabilidade de cuidar dos seus pais já idosos, ou aceita tranquilamente conviver e morar com seus filhos do relacionamento anterior, tá tudo certo. A partir do momento que você precisa deixar seus pais doentes na casa de parentes ou ir visitar seus filhos na casa de terceiros porque seu cônjuge decidiu que é estressante conviver com eles, tá na hora de rever suas prioridades. Você não pode ter como prioridade um casamento que interfere de maneira negativa nas suas relações familiares e sociais, de suma importância até mesmo para a sua saúde mental. Quando usamos a palavra "prioridade" para explicar uma filosofia, uma ciência ou ponto de vista, precisamos contextualizá-la muito bem para não haver más interpretações: o que significa priorizar o casamento, na prática? O que significa priorizar (ou não) os filhos, na prática? Cada pessoa tem um entendimento do que significa prioridades na família. Eu conheço pessoas que entendem que priorizar o casamento é, na prática, abandonar os filhos ou deixá-los serem vítimas de violência. E essas não estão erradas ao pensar isso, porque de fato isso acontece, e muito. Às vezes a mulher prioriza tanto o marido que acaba negligenciando os filhos, permitindo maus tratos ou mesmo os deixando na casa de terceiros, pois o novo parceiro não os aceita. Em contrapartida, eu conheço pessoas que interpretam a palavra prioridade como sendo o ato de nutrir e suprir a relação conjugal primeiro, porque é a relação conjugal que traz a estabilidade para toda a família. E de fato, um casal unido que supre e sustenta o matrimônio, tem mais condições de exercer a parentalidade de forma eficiente e menos chances de se divorciar. O problema é que a internet está tomada por coaches que decidiram tratar desse assunto de maneira massificada. E claro, a metodologia coaching é tão falha quanto a capacidade do brasileiro médio de contestar aquilo que assiste. Coaches usam argumentos simplórios, rasos e sem qualquer fundamentação científica. Uma prova disso é o Rafael Nery, que se diz um cristão conservador e usa como exemplo simbólico árvores e frutas para explicar a dinâmica de prioridades na família. Esse tipo de argumento faz tanto sucesso porque é simples, não é técnico nem acadêmico e por isso faz sentido na cabeça do brasileiro médio que, quando muito, lê um livro por ano. Contudo, essa forma rasa e simplista de explicar a realidade vem embalada em uma oratória confiante, isso dá ao ouvinte a sensação de estar frente a um conteúdo de alto nível. Porém, explicações rasas não explicam realidades complexas. Dizer que a árvore é mais importante que o fruto ou dizer que seus filhos sairão de casa um dia para formar a própria família não explica o porquê o seu casamento deve ser a prioridade ao invés dos seus filhos. Na verdade, isso não explica nada se não entendermos primeiro o que significa ser prioridade, na prática; com exemplos reais. Eu li inúmeros autores (Todd gangl e Tammy gangl, instituto Focus on family, Ron L. Deal, Emma Jhonson, Nancy Recker, Dr. Gary e Barb Rosberg) que acreditavam que priorizar o casamento era ter uma parentalidade unida, dedicar tempo ao casamento para que ele não fique em piloto automático. Esses autores acreditam que priorizar os filhos significa colocar eles no centro da relação familiar, o que acaba sendo prejudicial para o casamento e para os próprios filhos. Em contrapartida, escritoras como AMY WRIGHT GLENN, ou doutoras como Laura Markham interpretam a priorização dos filhos como sendo, na verdade, colocar o melhor interesse da criança e do adolescente (que significa o melhor para o bem-estar psicológico, emocional, físico, sexual e moral) a frente do casamento; e eu concordo com ela. De fato, colocar os filhos no centro do núcleo familiar, negligenciando o casamento, realmente irá te levar a um provável divórcio. Entretanto, priorizar o melhor interesse do seu filho somente te levará ao divórcio se o seu parceiro(a) for uma pessoa inadequada. Porque, na prática, o melhor interesse da criança e do adolescente pode significar tanto que você, pai e mãe, deve se divorciar porque o seu parceiro ou parceira não respeita seu filho (bate nele, por exemplo) quanto pode significar que você deva, talvez, dar mais atenção ao seu casamento, caso este seja um pilar saudável na sua vida e na criação dos seus filhos. Portanto, só podemos falar em priorização conjugal após entendermos que o melhor interesse da criança é inegociável, previsto em lei e vem primeiro que o casamento.
O conteúdo da publicação foi ocultado
Para desbloquear o conteúdo, por favor, clique aqui