Confesso que é difícil escrever sobre isso. Até porque a história é bem longa, eu sei que todas as histórias de amor são, mas nós de fato temos muito tempo de convivência e amizade.
Conheci meu noivo na escolinha da igreja, meus pais são membros da mesma igreja desde 1980, se casaram lá e eu fui criada lá também, e quando eu estava com 2 anos e o Ka com 6 meses a mãe dele passou a frequentar essa igreja.
Dizem que quando é pra ser tudo conspira a favor, na época os pais do Ka passavam por uma barra, o pai dele foi assaltado no aeroporto e levou dois tiros, até hoje ninguém explica como o cirurgião conseguiu remendar o fígado do meu sogro. E como pra pobre toda desgraça é pouca, minha sogra tava com 9 meses de gestação do meu cunhado mais novo. Quando Biel (Gabriel) nasceu meu pai comprou a primeira roupinha dele, e ele era o meu xodózinho que carregava ele no colo pra todos os lados, sem ter condições porque nem sabia segurar uma criança, minha mãe vive dizendo que não sabe quem tem menos juízo eu com dois anos ou minha sograr por entregar ele pra mim rs.
Desde esse momento meus pais e os pais dele não se desgrudaram, convivemos na mesma congregação de bairro por muito anos, a mãe dele foi minha professora na igreja. Sempre fomos amigos de brincar juntos, correr - apesar de eu ser uma criança extremamente preguiçosa - tenho nas memórias de infância ele nas melhores partes da minha vida.
Quando eu estava com 10 anos meus pais se mudaram e ai complicou nós nos afastamos, a convivência não era mais a mesma, a distância atrapalhava bastante e o Ka também se mudou foi pra um pouquinho mais longe de mim. Na nossa época de adolescentes ainda não tinha rede social, mas apesar de nós dois termos celular um não tinha contato com o outro. Passamos a ter amigos diferentes e até essa época tínhamos o mesmo círculo de amigos.
E chegou a tão complicada adolescência e nós tínhamos nenhum contato essa época. Queria que ele estivesse por perto teria livrado ele de umas barras, homens, enfim, sempre cuidei do Kairo como meu amigo que ele é. Sempre que o via nos eventos corria pra abraçá-lo, ele sempre teve o melhor abraço de todos. Logo ele ficou muito maior do que eu, o que é até hoje, meu eucalipto.
Quando começamos a conviver de novo eu namorava outra pessoa e ele também, ambos namoros a distância, que nos fizeram sofrer juntos. E isso durou um longo tempo, mais de 03 anos, e apesar de não falarmos um com o outro sobre isso eu sempre ouvia de como ele estava através da Evelin (nossa madrinha cupido) e ele de mim. Quando eu dei um ponto no final no que me fazia sofrer e finalmente encerrei essa parte tão horrível da minha vida Kairo me apoiou mesmo sem saber, foi como um sopro de vida recuperar nossa amizade depois de passar pelo inferno.
Eu estava no meu último ano de faculdade quando nos reaproximamos, conversávamos por horas, até um dia ele disse pra mim que ia viajar e queria conversar comigo antes, ele ainda namorava nessa época, mas ele tava mto infeliz. Eu tava trabalhando e ele foi até minha casa porque queria ouvir meus conselhos, acabou que não deu tempo de conversarmos. Eu só dei um abraço bem apertado.
Quando ele voltou de viagem estava solteiro. No ano seguinte era minha formatura e eu tava radiante de felicidade e convidei todos os meus amigos próximos. Kairo trocou as datas e quase não foi. Me disse em cima da hora que tinha feito confusão. Pense numa mulher de 1,63 furiosa, tava eu. Disse que ele se virasse se não viesse nem olhasse mais na minha cara. Resultado, ele veio de ônibus sem ter lugar pra dormir e mais algumas coisas que foram acertadas na hora da festa (nós moramos em cidades diferentes até semana que vem).
Não sei explicar qual foi minha reação na hora que ele chegou, a maquiadora estava terminando de me arrumar, e ele tava estático me olhando como se nunca tivesse me visto, a menina terminou e nós ficamos no sofá conversando sobre a vida. Minha mãe passou por nós, olhou pra gente fez uma careta estranha, mas passou.
Fomos a festa e ele foi a primeira pessoa que me agarrou pra tirar foto. Eu fiz copos pra o pessoal usar na festa e ele deu uma ataque de quem era mais importante com um amigo meu por causa de um copo rosa. Acredite, nada razoável. Ele foi embora e desde então não paramos de conversar um dia sequer.
No Carnaval eu fui pra Domingos Martins com minha família e fiquei em um lugar sem sinal o feriado todo. Quando eu desci a serra e o celular deu sinal tinha alguém doido da vida me procurando, querendo saber onde eu tinha me metido e porque tinha sumido porque estava com saudade de mim.
Ele me chamou pra ir ao Cinema assim que cheguei, fiz jogo duro, não fui.Ainda bem porque ia ver ele chorar pelo Logan. Logo em seguida eu viajei de novo pra o Balneário de Guaratiba, próximo aqui, e foi quando eu me dei conta que realmente gostava dele e precisa entender o que tava acontecendo, pra não confundir uma amizade de anos com um sentimento que tava nascendo. Eu preferi ficar trancada num quarto de hotel no paraíso do que ir a praia porque eu queria ficar conversando com ele.
Então eu tomei a iniciativa, ele tava de férias da universidade, chamei pra passar um fim de semana na minha casa, uma coisa totalmente normal pra nós que sempre frequentamos a casa um do outro. Tanto que ninguém na minha casa estranhou. Como eu tava de férias do trabalho minha mãe me pediu que organizasse a casa pra chegada dele, sumi o dia todo do celular envolvida com isso. Kairo reclamou, "você sumiu o dia todo eu to com saudade".
Essas coisas pequenas faziam meu coração já ficar apertado. Até que nossa amiga cupida veio me questionar o que tava acontecendo porque ela tinha notado nossa aproximação intensa nos últimos dias. Eu disse a ela que estava confusa e achava que ele só gostava de mim como amiga. Ela fez a mesma pergunta pra ele e contou sobre os meus planos futuros meu trabalho tinha acabado de ser aceita pela Escola de Direito e Economia de Barcelona e eu estava me organizando para próxima fase da seletiva. Acho que foi a gota d'água, na semana seguinte ele bateu na minha porta, numa sexta às 8h da madrugada, sim da madrugada, quem me conhece sabe que sou morcega e trabalho muito mais na madrugada e os inícios de manhã são terríveis pra mim.
Kairo nem parecia ele tímido, vergonhoso, ele nem me olhava nos olhos. Durante na presença dos meus pais e irmãos foi tudo normal, estávamos bem, o ambiente era totalmente natural pra nós, tirando meu pai querendo saber se ele tinha chance de voltar com a ex, gente meu pai é a pessoa, vocês não tem noção de como é a casa da discrição kkkkkk.
A tarde todo mundo precisou sair, ele decidiu sair comigo, eu já tava com medo porque ele nem me olhava. Só que eu sou atrevida, ele não me olhava mas eu olhei pra ele e encarei, ai ele devolver o olhar e ficamos assim por um bom tempo. Todos os nossos amigos sabem que toco e canta, e no dia eu estava com uma música na cabeça, nem fala de amor, muito pelo contrário, 'desamor', eu cantei Set Fire to the rain da Adele e Kairo ficou me olhando como se eu fosse um ET, pensei até que tinha errado alguma coisa. Fomos fazer mais algumas coisas até que decidimos ir numa sorveteria, tava tudo indo bem, até meu irmão chegar e começar com as mesmas perguntas do almoço que meu pai fez. Benditas Goiabas.
A noite nós fomos a uma festa de aniversário e catei ele comigo. No trajeto a lua tava linda e foi nosso assunto. Chegando lá sentamos numa mesa e ele tinha toda minha atenção até que uns amigos meus estavam no local. Kairo mudou de expressão. Eu cumprimentei as pessoas, ele também e ele incomodado. Até que me levantei e fui até um outro amigo meu que ele não conhecia na época e Kairo fechou ainda mais a cara, nem imaginava que eu tava tentando empurrar ele pra outra menina rs.
O rapaz me perguntou quem era o Kairo, e queira saber porque ele encarava tanto, daí já começaram as especulações. O dia seguinte teve um seminário e eu passei o dia inteiro na igreja, ele comigo, pra todos os lados. Pareciam meu guarda costas com esse tamanho todo. A noite eu fiquei em um lugar e ele em outra, quando nos encontramos eu procurava ele com o olhar o tempo todo, chegou depois de mim. As pessoas nos viam juntos e perguntavam se éramos um casal. Porque havia tanta sintonia. Eu mais uma vez enrolei e corri dele.
No dia seguinte eu tinha um trabalho voluntário pra fazer, ele foi comigo, passamos o dia nisso. Meus pais esqueceram de trazer algumas coisas e foram buscar. Meu irmão ficou com a gente no mundo dele de celular e animes. Eu ganhei um pote de brigadeiro de colher, feito por uma amiga, ele já quis que eu dividisse e olha dividir chocolate é um passo muito sério, tá?
Nós conversávamos, devorando o brigadeiro. Foi quando ele tentou me beijar e meus chegaram, seria cômico se não fosse trágico. A noite no retorno pra casa estávamos na nossa bolha conversando no nosso mundinho, ele recitou "Eu não existo sem você", de Vinicius de Moraes no meu ouvido e eu me derreti de amores, porque antes de beijar meus lábios ele me abraçou e beijou minha testa. Quem me conhece sabe o tanto que sou carinhosa e ele retribui todo esse carinho.
No outro dia pela manhã ele iria embora e meu coração já tava apertadinho, aniversário dele, e ele como quem não quer nada me disse: "namora comigo?", eu aceitei, noivamos em dezembro e nos casamos na próxima semana, dia 22/06/2019, que tem sido tão sonhado por nós dois, que todos possam viver história de amor com finais felizes, não encontrar príncipes, mas pessoas que te façam acreditar que vale a pena e é pra vida inteira, como eu encontrei! 
Com amor,
Bel
