Olá noivinhas dessa comunidade querida! Vou criar um debate bem longo, mas que considero extremamente importante e informativo. Sugiro fortemente que leiam, rs...
Este debate é informativo para homens e mulheres, mas é focado para as mulheres!
Resolvi escrever porque tenho visto muuuuuuuuuitas meninas por aqui perguntando coisas sobre anticoncepcional:
- qual o melhor?
- dá problema? Que tipo de problema?
- engorda?
- dá trombose?
- quando começar a tomar?
- etc etc etc
Primeiro, devo dizer: EU NÃO SOU MÉDICA! Não sou especialista do assunto. Eu sou uma PACIENTE que teve trombose e vive com uma sequela irreversível, por isto este debate é simplesmente um relato-depoimento.
Eu, Estela, SOU COMPLETAMENTE CONTRA o uso de hormônio como forma contraceptiva. Vou relatar meus motivos.
Isso serve como OPINIÃO para pessoas que se sentem inseguras / com dúvidas.
Se você já resolveu e decidiu que quer e vai usar a pílula, independente dos riscos, boa sorte! Não sou eu que vou mudar a opinião e a vida e rotina de ninguém, mas eu não me sinto em condição de dizer para qualquer pessoa que ok, vá tome! Não! Se me perguntarem, eu sempre vou dizer: não tome!
Leiam a bula da pílula: “causa trombose”. Todas, de todos os tipos, de todas as marcas.
O que aconteceu comigo?
Durante muitos anos me precavi de gravidez com preservativo (também precaução contra doenças venéreas) e outros métodos não invasivos. Sempre fui cuidadosa e responsável. Nunca engravidei (nem pretendo, mas isso é outra história).
Sempre sofri – como muitas mulheres – de cólicas fortes, fluxo menstrual intenso, ciclo irregular, TPM, problemas de pele, etc.
Em conversa com amigas (o que acontece com todas nós), aos 30 anos, achei que a pílula poderia ser uma solução.
Minha mãe teve trombose quando ela tinha 20 anos, depois de 5 meses de uso de pílula. Por esse motivo, ela me dizia que eu não deveria usar. Só que nem ela nem eu sabíamos tanto a respeito. Na época que ela teve (em 1977), ela tratou, ficou com sequelas (dor na perna) e envelheceu com isso, tendo apenas o uso de meia elástica de alta compressão como tratamento. Nunca nenhum médico deu a ela uma orientação melhor sobre causas e outras variáveis.
Por causa da minha mãe, eu não resolvi tomar pílula por conta própria, resolvi checar com médico – isso é o mínimo que todas nós devemos fazer.
Marquei com o ginecologista que tratava minha mãe há anos e ele sabia de todo o histórico dela.
Falei dos meus problemas com o médico (tpm, cólicas, etc) e que eu tinha interesse em tomar, mas tinha medo devido minha mãe. O médico me disse:
“Você quer tomar? Ok! Quando sua mãe tomou pílula na década de 70, os hormônios eram fortes, hoje em dia é fraquinho, não tem problema.”
Ele FEZ uma RECEITA (desculpem, não me lembro o nome do remédio) e eu usei!
Usei por 4 meses, somente 4 meses e foi o suficiente!
Eu tinha 30 anos, fazia academia de domingo a domingo 3hs por dia – exercícios cardiovasculares e musculação e alongamento. Não era sedentária, nunca fumei, não tinha hábito de bebida alcoólica e me alimentava de forma saudável.
Mesmo assim, eu tive trombose.
Foi de repente. De um dia para o outro.
Em uma segunda-feira à noite treinei 3hs na academia, como de costume.
Na terça de manhã, acordei com fortes dores na perna esquerda. Achei que tinha pegado pesado no treino. Levantei, me arrumei, dirigi até meu trabalho.
Sentei na mesa com o computador e fiquei trabalhando. Na época eu trabalhava numa empresa do meu pai, estava eu, meus pais e o sócio no escritório. Minha sorte foi ter meus pais do lado.
Trabalhei umas 4hs na parte da manhã, sentadinha. Meio-dia minha mãe me chamou para almoçar.
Eu disse que não iria até o restaurante porque não estava conseguindo andar de tanta dor na perna, pedi para ela trazer comida para mim.
Ainda levei uma bronca dela por pegar pesado no treino. Quando minha mãe retornou com a marmita, eu estava quase chorando de dor. Ela pediu pra eu mostrar minha perna, foi quando eu levantei a calça e então ela deu um grito e eu percebi que minha perna estava toda roxa (além de dolorida) e inchada (o dobro do tamanho normal, só não arrebentou a calça porque eu estava com um tecido maleável).
Meus pais me enfiaram no carro e corremos para o hospital. Eu fui internada no mesmo instante. Não sofri amputação porque nos dias de hoje o hospital entra na hora com medicação na rede sanguínea para reverter o quadro. Para entender mais sobre o que acontece no sangue, sugiro este link:
https://www.facebook.com/HistologiaFisiologiaAnatomiaHumana/videos/1021048781306154/
Resumindo: nosso sangue circula nas veias do corpo todo sendo bombeado pelo coração. Existe a lei da gravidade: tudo é puxado para baixo e para subir precisa de estímulo/pressão. Nas laterais de nossas veias e artérias existem válvulas que é o que impulsiona o sangue de volta para cima, de volta para o coração. As veias com o sangue funcionam como um encanamento com água/líquido dentro. Se houver uma obstrução no meio do cano, a água não irá passar. Alguns fatores genéticos e anatômicos (que a pessoa nasce assim) fazem com que o sangue de algumas pessoas forme um trombo ou coágulo, que é um empedramento do sangue. Uma parte do sangue deixa de ser líquida e se torna sólida. Isso entope a veia e o sangue não passa. Foi o que aconteceu em uma veia na região da minha virilha, impedindo a circulação de sangue na minha perna esquerda.
Da minha virilha para baixo, do lado esquerdo, a circulação parou até o dedinho do pé, por isso a perna esquerda inchou e ficou roxa e isso gerou muita dor (MUITA dor).
No hospital, deram medicação intravenosa que reverte o coágulo, para que ele se desmanchasse e a circulação voltasse ao normal. Eu fiquei 1 semana internada recebendo essa medicação para desformação do coágulo (se fosse 100 anos atrás, a solução seria a amputação, sim isso é super sério).
Voltei para casa depois de 1 semana e durante 3 meses eu mal conseguia andar e fiquei sem trabalhar (sorte que meu pai era meu chefe na época, mas eu teria conseguido licença). A falta de circulação que se instalou na minha perna durante umas 6 horas e 1 semana para normalizar destruiu válvulas sanguíneas das veias da minha perna. Isso é irreversível, é como perder um dedo, não dá para ter outro de volta. Hoje eu sou deficiente vascular – tenho insuficiência venosa crônica (IVC) – ou seja, o sangue tem dificuldade de retornar para cima, para o coração. Eu teria que ficar o dia inteiro com a perna para cima para ser normal. Isso causa dores terríveis (sensação de peso). Me acostumei com elas porque não tem o que fazer.
Minha mãe passou a vida toda tomando remédios para dores e hoje com 60 anos, está com o fígado detonado, cheia de problemas de saúde. Já testei medicamentos para dores, mal fazem efeito, algo que já tirou minha dor foi morfina em hospital, mas não posso viver 24h tomando morfina, então eu aguento a dor. Melhora quando estou em movimento, então continuo fazendo atividade física (levei 2 anos depois da trombose para retornar). A dor hoje faz parte da minha vida! Eu vivo com dor, 24h por dia! Há mais de 5 anos! E vai continuar até o dia que eu morrer.
Eu não desejo isso para ninguém!
A segunda parte da história: o que causou a minha trombose?
Infelizmente, só depois de ter tido a doença, eu fui descobrir uma série de coisas.
Quando eu falei ao ginecologista que queria tomar pílula e tinha histórico na família (no meu caso foi minha mãe, o que era super sério, mas vale qualquer parente consanguíneo), o médico não deveria ter me deixado tomar, muito menos passado uma receita. Ele deveria ter me encaminhado a um hematologista para PESQUISA GENÉTICA DO SANGUE, para detectar se eu tinha ou não TENDÊNCIA a trombofilia (se meu sangue tinha a tendência genética a formar coágulo).
Isto foi claramente um erro médico. Claro que troquei de ginecologista, na verdade, até achar bons médicos, passei por mais de 10 ginecologistas e vasculares. Em vários exames solicitados em conjunto pelo hematologista e vascular eu descobri que:
- Eu tenho uma mutação no DNA do meu sangue (fator genético, hereditário) que é a tendência de formação de coágulos no meu sangue;
- Eu tenho a veia ilíaca cava esquerda (a que entupiu quando tive a trombose) deformada de nascença, mas eu nunca soube disso antes (é como um dedo que nasce torto).
- Esses dois primeiros fatores eram como uma bomba relógio para eu ter trombose e o hormônio do anticoncepcional foi o pavil que fez a bomba estourar.
A minha deficiência anatômica na veia era algo muito difícil de eu vir a descobrir na vida se nunca tivesse tido a trombose. Já o primeiro fator: o do DNA era fácil de descobrir. Bastava o ginecologista ter me encaminhado para o hemato antes de receitar pílula. O hemato teria me pedido exames específicos e teria me dito: VOCÊ TEM UMA MUTAÇÃO TAL (se chama fator V de Leiden e tem outros nomes também) e você NÃO PODE TOMAR HORMÔNIOS. Com isso, eu nunca teria tomado e nunca teria tido a doença e hoje não teria uma sequela irreversível. Parece simples, não é mesmo? Só fazer um exame de sangue e saber com certeza absoluta que pode ou não pode tomar hormônio.
Por que os ginecologistas não encaminham as mulheres para esse processo? Porque:
- a indústria de convênios teria um prejuízo gigante com os exames (exame de DNA é caríssimo);
- a indústria farmacêutica teria um prejuízo gigante por deixar de vender pílulas anticoncepcionais.
Ou seja: e a saúde das pessoas? Nesses mais de 5 anos com este problema, já cansei de ler sobre o assunto em blogs na internet e inclusive já cansei de ler depoimentos de médicos, sendo que muitos dizem:
“As mulheres afetadas pelos anticoncepcionais exageram, elas colocam um terror num assunto que nem é tão grave assim. Além disso, é uma porcentagem muito pequena de pessoas na população do mundo que desenvolve essa tendência genética, não podemos deixar de receitar pílulas à grande maioria, sendo que uma minoria tem trombose. A pílula tem diversos benefícios e bla bla bla.”
Pois eu digo à classe médica: me desculpe, mas eu nunca vou concordar em deixar um assunto pra lá porque é minoria. E é grave sim! Eu passo pelo problema! Eu sei! É grave! É sério! Dane-se a saúde da minoria? É muito fácil um médico falar. Porque ele estudou e trabalha com isso! Mas sou eu que estou aqui hoje sofrendo no meu corpo, na minha vida, na minha rotina, na minha saúde, pro resto da vida, por causa de protocolos médicos. Consegui encontrar uma ginecologista que não tem essa opinião da maioria e me ajuda muito, mas sofri para encontrar viu!
Só quem tem o problema e passa por isso entende. E se acham que é muito difícil, que é raro, que nunca conheceram ninguém com esse problema, ou tem a mania das pessoas de acharem que “não vai acontecer comigo”, sugiro outro link:
https://www.facebook.com/vitimasdeanticoncepcionais/?fref=ts
Nesta página há diversas histórias além da minha. DIVERSAS!
E para terminar, vou contar como finalizou minha história:
Depois de descobrir a tendência genética a ter coágulos e ter passado pelo sofrimento da trombose, claro que nunca mais engoli hormônio. Depois de ter descoberto que eu tenho uma deformação anatômica na veia ilíaca, isso era preciso corrigir para não correr o risco de novos entupimentos, passei por 2 cirurgias e possuo 3 stents. Faço uso constante de medicamento oral anticoagulante (e minha mãe passou a fazer também, embora antes ela não tivesse ainda sido corretamente orientada). E uso meia elástica de alta compressão. Minha perna esquerda hoje é levemente mais grossa que a direita (nunca voltou 100% ao normal), de roupa não é perceptível. Por possuir uma deficiência não visível, sofro preconceito em filas e lugares que preciso sentar e esticar a perna e até o não entendimento das pessoas, que olhando para mim – uma moça jovem e bonita – não sabem o que eu passo e o que eu sinto. Não me faço de coitadinha e não me sinto! Sou forte e sou sonhadora e batalhadora na vida e feliz! E dou valor à vida e à saúde! Mas é óbvio que eu preferia não ter esse problema.
Outros fatores que fazem o pavil da bomba relógio “trombose” explodir:
- sedentarismo - avança com a idade
- cigarro e drogas
- pressão atmosférica (viagem de avião) – por exemplo meu caso, não deixarei de viajar, mas o uso da meia e anticoagulante é obrigatório
- gravidez (muitas mulheres só descobrem a tendência depois de abortar 4, 5 vezes) e mulheres que possuem a tendência e pretendem engravidar devem fazer um tratamento específico (não vou detalhar isso, seria outro debate, mas é um dos motivos que eu não quero engravidar, este tratamento é hiper caro e muito sofrido, antes, durante e depois da gravidez).
- bebida alcoólica
- obesidade (gordura corporal acima de 40%)
- tendência hereditária - FIQUE ALERTA SE - qualquer familiar consanguíneo tiver histórico de varizes, refluxo, trombose, AVC, derrame, embolia, paralisia, problemas cardíacos.
Outras doenças que são causadas pelos mesmos fatores e que coloca o paciente que usa hormônio (pílula) em risco:
- AVC (acidente vascular cerebral - coágulo no cérebro)
- Embolia pulmonar (coágulo no pulmão).
AVC, embolia pulmonar e trombose são a mesma coisa, o que muda é a região do corpo. AVC por ser no cérebro pode causar sequelas terríveis, como paralisia de membros, tornar a pessoa surda, muda ou cega, ou demência mental, além de morte e/ou morte cerebral e permanecer vivo em estado vegetativo.
O que fazer?
Soluções para prevenir gravidez: existem tantas, mas não vou entrar no mérito aqui, é assunto para outro debate. Pesquisem! Abram-se para outras oportunidades! E outras opções de SAÚDE!
Soluções para interromper a menstruação no dia do casamento? Isso é mesmo necessário? Quando estamos menstruadas não vivemos de forma normal nosso dia? Mas isso também é assunto para outro debate.
Quer ter saúde? Eu digo: NÃO TOME PÍLULA ANTICONCEPCIONAL. Ou no mínimo, passe com um hematologista para ter certeza que você não terá problemas.
Um conselho final: OUÇAM SEMPRE AS MÃES!!!! Um médico errou comigo, mas eu errei em não ter ouvido minha mãe, ela estava mais certa que o médico, eu poderia ter evitado tudo isso. Enfim, não vivo de arrependimentos e de “E SE”, na vida temos que olhar para a frente, para o futuro, hoje eu busco soluções para meu conforto e melhora da qualidade de vida! Mas se eu ajudar outras pessoas a não terem o que eu tive, vou ser um pouquinho mais feliz!
Bjos e só desejo o melhor a todos!!! =)
É importante dizer que nem todas as mulheres terão trombose, mas é fundamental conhecer os riscos. Trabalho ( cartaz ) de Lúcia Lemos.